Vivemos um cenário de demanda reprimida, com mix variado, restrições a grandes volumes, capacidade ociosa e com baixo potencial de investimentos. Coincidentemente este é o mesmo cenário que a Toyota vivia no pós-guerra quando o Sistema Toyota, que deu origem ao Lean Manufacturing, foi concebido. Não é uma história do passado, mas sim uma lição para o agora.
O Lean é bastante responsivo às variações de demanda, especialmente em termos de mix, através dos conceitos de nivelamento e puxada, mas também lida bastante bem com oscilações de volumes (acima e abaixo) através das unidades celulares flexíveis e por diferentes “nivelamentos de demanda preestabelecidos”. Erra quem pensa que o Lean é um sistema para a redução de estoques. Ele é um sistema de negócios que busca entregar ao cliente o que ele precisa, com elevada eficiência, alta qualidade e prazos reduzidos.
Neste artigo, vamos focar somente em como o Lean lida com as oscilações de volume, observando as características operacionais somente das linhas e células. As linhas de montagem, que possuem uma estrutura física naturalmente menos flexível que as células, e com mão de obra intensiva, apresentam um diferente modo de atuação e são adaptáveis somente à utilização da mão de obra direta, com balanceamentos pré-calculados e eficientes para diferentes níveis de demanda. Isto é, quando a demanda muda, o balanceamento muda também. A frequência com que isso ocorre muda, mas normalmente a cada 3 meses é possível realizar estes ajustes. Ainda assim, normalmente, vemos um mesmo nivelamento de demanda permanecer por muitos meses consecutivos.
As células, por sua vez, são desenhadas para serem flexíveis tanto para a mão de obra direta quanto para os equipamentos. Podemos dizer que elas são completas, múltiplas e flexíveis. São completas uma vez que fazem do início ao fim o processo de transformação; múltiplas, já que produzem frações da demanda em diversas unidades de produção; e flexíveis, pois aceitam diferentes mix de produtos em seu processo. Pode parecer um paradoxo, mas não é. Ao invés de ter poucas linhas ultra rápidas e com baixa flexibilidade, o modelo Lean prevê um desenho operacional com diversas unidades produtivas de ritmo mais baixo, mas altamente flexíveis e responsivas. Essa estratégia traz muitos benefícios e acaba sendo um diferencial competitivo muito forte.
Além disso, nesse modelo, é possível ter um investimento incremental, altamente eficaz na geração de fluxo de caixa, uma vez que se investe na demanda que já é próxima da realidade. Na expansão da economia, pode-se fazer baixo investimento e ter um rápido e bom retorno; nas situações de retração, é possível “desligar” parte das unidades de produção (células), e se adaptar aos novos volumes. Isso é muito melhor e mais fácil do que reduzir ou alterar turnos.
É um modelo de negócios extremamente eficiente, que vai muito além de um modelo de produção. No entanto, alguns pontos só podem ser construídos com uma visão de longo prazo sobre a gestão de investimentos e do footprint industrial. Aqueles que já investiram em grandes aumentos de capacidade podem ter que conviver com ociosidade e ineficiência por muito tempo numa busca ingrata pela geração de caixa e payback com seus ativos.
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