Uma nova – ou simplesmente – a verdadeira gestão de cadeias de suprimentos?

August 5, 2020 | News Brazil

* Por Alberto Senapeschi Neto

A pandemia mudou nossas vidas. Adotamos novas formas de trabalho, novos hábitos de compras, novas práticas de exercício, novas atividades de lazer. Se analisarmos diversas áreas, talvez muitas mudanças levariam anos para se concretizar, mas a crise pandêmica que vivemos serviu de catalizador no processo de mudança. As dúvidas sobre relações trabalhistas e viabilidade do home office na maioria das organizações desapareceram já nos primeiros dias da pandemia e a nova prática do trabalho em casa veio para ficar. Já ouço de muitos clientes que para muitas atividades este modelo será mantido pós-pandemia. A grande dúvida sobre se o mercado consumidor migraria realmente para compras on-line evaporou também já nas primeiras semanas. Em pesquisa encomendada pela rede Globo para o IBOPE no mês de julho, 46% dos brasileiros entrevistados disseram que vão manter os novos hábitos de compras on-line quando a pandemia terminar (fonte: e-commercebrasil).

Mas e quanto à gestão das cadeias de suprimentos das organizações? Que medidas sua empresa efetivamente adotou na relação com fornecedores e clientes durante a pandemia e que provavelmente serão mantidas quando tudo isso terminar? Como sua empresa revisou a estrutura organizacional ou processo de “Sales & Operation Planning” para garantir mais transparência entre clientes, fornecedores e áreas internas da própria organização? Que aprendizados e iniciativas foram implementados para melhorar a experiência do cliente/consumidor e também dos fornecedores durante essa crise?

Historicamente, a gestão das cadeias de suprimentos caminha “em passos de formiga e sem vontade”, plagiando Lulu Santos. Um dos artigos seminais sobre Supply Chain Management “Supply Chain Management: more than a new name for logistics”, foi publicado em 1997 por Douglas M. Lambert e alguns colegas. O texto já apresentava a importância de se gerenciar todas as áreas da organização numa visão “End-to-End”, isso é, uma visão que integre clientes, fornecedores e todos os departamentos internos na busca do melhor atendimento, não somente aos clientes diretos mas também ao consumidor final do seu produto ou serviço.

Estamos em 2020, ou seja, 23 anos depois e ainda são poucas as organizações que conseguem efetivamente trabalhar no processo End-to-End, sem os famosos “silos” departamentais, sem que as metas individuais se sobreponham às necessidades dos clientes, sem que o cuidado com jornada do cliente (que vejo surgir como algo novo nos últimos anos, mas que já era a base conceitual do Supply Chain Management de Lambert em 1997) seja tratada como fundamental para sustentabilidade de uma organização.

A esperança é que, assim como os canais de compra on-line, a prática do home office e tantos outros temas que talvez tenham avançado décadas em semanas com a pandemia, o supply chain management também evolua mais rapidamente. O momento é de integração, parceria e transparência entre todos os elos das cadeias, sejam elas de transformação de materiais, informações ou pessoas. Devemos fazer com que estas parcerias e a redução dos silos organizacionais ora implementados nos diversos comitês anticrise, comitês Covid-19 e outros tantos nomes que tenho visto nas organizações, sobrevivam após a pandemia de forma a planejarmos, inovarmos e executarmos melhor o atendimento ao cliente/consumidor aos menores custos para toda cadeia. Que os conceitos ágeis de gestão sejam efetivamente implementados nas organizações, permitindo decisões descentralizadas e empoderando as equipes em prol de maior eficiência e qualidade nos atendimentos. Que as áreas de compras trabalhem efetivamente com fornecedores parceiros em relações de simbiose e não de constante pressão. Que o planejamento colaborativo com clientes, obrigatório neste momento em que as bases históricas perderam toda e qualquer credibilidade, seja efetivamente implementado e não seja utilizado como ferramenta do mais forte para empurrar estoque para o mais fraco. Enfim, que possamos dar passos largos rumo a verdadeira gestão de supply chain!

Alberto Senapeschi Neto, Partner Staufen

Engenheiro de Produção, mestre em Supply Chain Management (SCM) e doutorando em Indústria 4.0/SCM – UFSCAR

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