*Por Alberto Senapeschi Neto
Em artigo recente, publicado por Jayanthi Ranjan do Institute of Management Technology da Índia, e por Cyril Foropon, do Departamento de Empreendedorismo, Estratégia e Tecnologia da Escola de Negócios de Montpellier, na França, os autores apresentaram as dificuldades das organizações em criarem suas estruturas de inteligência competitiva de forma a realmente gerar valor para o negócio a partir do uso de dados.
É sabido que, durante os últimos anos, inúmeras organizações têm se utilizado da captura de dados e se beneficiam de diversas tecnologias emergentes para o monitoramento de seus concorrentes – que é basicamente a que se destina o processo de inteligência competitiva nas empresas. A grande questão é quanto realmente os dados capturados estão sendo utilizados para real agregação de valor para o negócio em tempo hábil e trazendo os resultados esperados?
Aqui vamos tratar da mesma questão. Mas, ao invés de inteligência competitiva, vamos discutir no âmbito da área de operações. A grande questão é como migrar de um processo de digitalização baseado no uso de tecnologias de comunicação ou na captura excessiva de dados – algumas vezes inúteis -, para um modelo de geração de valor para clientes e demais stakeholders.
Segundo o relatório publicado no último mês pela STAUFEN A.G., muitas empresas na Europa vêm se apoiando em tecnologias de ponta, que permitem fácil implementação e principalmente fácil utilização no dia a dia para iniciar esta transformação.
Alguns exemplos trazidos pelas empresas foram ferramentas de Process Mining para criação de uma boa base de dados, arquitetura em nuvem para acelerar o uso das aplicações, APIs como forma de conectar diferentes aplicações, analytics e inteligência artificial, permitindo suporte contínuo à tomada de decisão.
O desenvolvimento dos profissionais de todas as áreas da organização – como produção, supply chain, administrativos, manutenção, qualidade, e etc – para conhecer estas tecnologias e saber aplicá-las no seu dia a dia passou agora a ser o principal desafio. Estas tecnologias podem ser utilizadas para acelerar o fluxo de dados e economizar em headcount. Mas o grande potencial está em saber utilizá-las na agregação de valor ao cliente e ao negócio.
O que é valor para o seu cliente?
Dentro do Lean, o primeiro passo é entender o que agrega valor ao cliente e o que é desperdício dentro do fluxo de valor. Muitas vezes surgem “hiatos“ dentro das empresas. De um lado, as áreas de negócio buscando formas de agregação de valor e, do outro, as áreas de Tecnologia com expertise técnica destas ferramentas.
É imprescindível que as organizações realizem “fusões“ entre as frentes de digitalização (ou IT) com os processos de melhoria contínua ou excelência operacional. As transformações verdadeiras acontecem a partir de pequenos avanços do dia a dia que se solidificam rapidamente e com resultados claros e pragmáticos, que influenciem toda uma organização. O papel das áreas de operações e melhoria é fundamental neste sentido, fomentando, testando e viabilizando os primeiros avanços também em tecnologia.
A implementação de RPAs (Robotic Process Automation), a utilização de tecnologias para suporte das lideranças no dia a dia em suas tarefas de “Shop floor Management“, o uso de modelagens em analytcis (e/ou pesquisa operacional) para solução de problemas e otimizações do dia a dia da gestão têm sido utilizados como os primeiros passos de uma transformação, com resultados rápidos e sustentáveis.
Reduzindo as resistências
Para os que ainda têm dúvidas de como reduzir as resistências internas ao uso de tais tecnologias, a recomendação é fazer com que estas soluções melhorem não somente o desempenho da empresa mas também o nível de satisfação dos usuários. À medida que atividades tediosas e repetitivas podem deixar de ser feitas, colaboradores e gestores efetivamente possuem tempo livre para atuar em melhoria de processo e implementação de projetos. Adicionalmente, à medida que os gestores possuem modelos matemáticos auxiliando em tomada de decisões do dia a dia e de forma preventiva, o tempo disponível passa a ser efetivamente utilizado em agregação de valor para os clientes e demais stakeholders.
Por fim, mesmo que sua organização esteja em um momento altamente favorável, margens em alta e targets sendo conquistados trimestre a trimestre, não há motivos para não iniciar esta jornada. Afinal, dentro de toda empresa sempre existe uma ainda melhor!