Nos dias 11 e 12 de junho, a STAUFEN.Táktica, subsidiária brasileira da alemã STAUFEN – consultoria Lean com presença em 10 países -, promoveu a terceira edição do Best Practice Day, Conferência Internacional de Lean Management e Transformação Digital. A edição 2019 bateu o recorde de participação, com mais de 70 empresas presentes, 18 palestras, 4 trilhas simultâneas e 6 workshops para aprofundamento dos temas, com visitas em empresas Best Practice parceiras.
Um dos grandes destaques da edição, o Lean expert norte-americano e keynote speaker Art Byrne trouxe ao palco do Centro de Convenções do Senac Santo Amaro, em São Paulo, toda a sua expertise de mais de 30 anos no comando da Transformação Lean em mais de 30 empresas, de 14 países diferentes.
Byrne contou sua experiência, alguns cases de sucesso e inspirou o público presente com diversas iniciativas e resultados alcançados. “A melhor forma de iniciar a sua Transformação é estudar a teoria Lean e visitar empresas próximas a você que implementaram e que já experienciam resultados. Sobre a digitalização, é verdade que ela traz uma série de vantagens competitivas, mas você precisa primeiro fazer a lição de casa com o Lean. Eu vejo várias empresas que querem informatizar seus processos, mas não eliminam os desperdícios antes disto. Este é um caminho errado. A mensagem que quero deixar aqui hoje é que o Lean deve ser visto, sobretudo, como uma estratégia top down e que ele é todo sobre pessoas, e não sobre processos. Se você começar por aí, você tem grandes chances de obter sucesso“, ressaltou Art Byrne.
Para o VP de Operações da Mercedes-Benz do Brasil, Carlos Santiago, a estratégia Lean muda a maneira como as empresas encaram a crise. “Normalmente, a tendência nesse momento de recessão é cortar, cortar e cortar – e você acaba cortando também o valor agregado. Quem trabalha com a mentalidade Lean sabe que o que tem que ser atacado é o desperdício. O Brasil hoje precisa de muita competitividade para sair deste período de recessão. A Mercedes acredita no nosso País, tanto que temos um plano de investimento de R$ 2,4 bilhões ainda para 2019, tanto em processos quanto em produtos. Estamos criando novas linhas, transformando nossas fábricas antigas com o que há de mais moderno no mundo. Queremos mitigar esse gap e tornar o Brasil novamente competitivo no cenário mundial“, avaliou.
Ainda de acordo com ele, a Mercedes-Benz foi uma das primeiras empresas no mundo a implementar a metodologia Lean e a praticar Kaizen. A Indústria 4.0 foi uma oportunidade alavancada em cima do Lean, literalmente o passo seguinte. “É muito perigoso digitalizar um processo que não é eficiente. Hoje em dia nós chamamos isto de ‘Paradoxo de Bill Gates‘, que acaba por exponenciar a ineficiência“, concluiu o executivo.
Já para o presidente da thyssenkrupp Elevadores, Marcelo Nery, a liderança tem papel fundamental para o crescimento operacional da manufatura, que começou em 2014, quando a empresa deu início à implementação Lean e passou a ser comparada às demais unidades do grupo em todo o mundo. “Nosso case na fábrica é hoje referência para que possamos implementar a metodologia no ‘campo‘. O que nós precisamos levar daqui como lição de casa é este desejo de implementar, principalmente por parte da alta administração, que precisa conduzir este processo“, ressaltou Nery.
O gerente executivo da Gerdau Rio Grandense, Jean Carlo Peluso, trouxe para o Best Practice Day o case de implementação na fábrica, que apesar do pouco tempo na jornada, já acumula grandes resultados no em seu fluxo sistêmico. Com um trabalho consistente de três anos, a Gerdau conseguiu aprimorar a interligação das plantas, vistas como silos, transformando o relacionamento entre elas em uma relação cliente – fornecedor, o que melhorou a entrega e o lucro da unidade.
E não é só na fábrica que a melhoria de processos traz importantes resultados. Ricardo Bloj, presidente da Lenovo no Brasil, exemplificou com um case recente de melhoria na assertividade da entrega dos produtos Lenovo. “Nós tinhamos na Lenovo um problema relacionado à satisfação dos nossos clientes sobre os processos de entrega. Buscamos ajuda para levar o conhecimento que já tínhamos de Lean na fábrica para os processos administrativos. Por meio de um mapeamento, encontramos mais de 80 oportunidades de melhoria, que se transformaram em 13 projetos. Nossos resultados foram muito satisfatórios: melhoramos a satisfação do cliente, a acuracidade de entrega e, por fim, o índice NPS, que cresceu de 21% para 56%“, contou Bloj.
Ainda segundo ele, hoje a Lenovo tem uma proposta de transformação inteligente no sentido de auxiliar os clientes nesta jornada através de sua própria linha de produtos, seja um pc conectado na nuvem com inteligencia artificial, um smart device ou uma smart maufacturing. “Queremos auxiliar nosso cliente na sua própria transformação com o que produzimos em casa. A melhoria de processos, alinhada à Transformação Digital, é hoje uma questão de sobrevivência. Se você não fizer, saiba que seu concorrente está fazendo“, finalizou o presidente da Lenovo.
Lean em Serviços também foi o tema abordado pelo diretor de concessionárias Volvo no Brasil, Adriano Merigli. Ele contou, durante sua apresentação, que em um dado momento os produtos serviços oferecidos pela Volvo Caminhões estavam incompatíveis. “O produto era de excelente qualidade, mas o cliente chegava a esperar de 3 a 4 horas por uma troca de óleo, por exemplo. Foi aí que decidimos trazer toda a experiência do Lean em nossas fábricas para dentro das concessionárias. O piloto teve início em 2016 e, até agora, já treinamos mais de 2 mil pessoas em todo o País. Para a troca de óleo, por exemplo, o lead time passou de quase 4 horas para 40 minutos. Tivemos ganhos absurdos na eficiência e agora estamos levando a metodologia para vários outros serviços. Este resultado é apenas uma semente que plantamos pra colher os frutos daqui a 5 anos ou mais. O Lean é uma cultura e não apenas um conjunto de ferramentas“, enfatizou Merigli.
Digitalização
A Digitalização e a Indústria 4.0 também estiveram no centro das discussões da terceira edição do Best Practice Day Brasil. Para Michael Ketterer, diretor da MWM Motores Diesel, investir em digitalização sem que se tenha processos robustos é um grande risco para o negócio. “Para começar, é importante não ter medo. Comece pelo Lean, que é uma implementação de baixo custo. Certifique-se de que já não há mais desperdícios e só então invista na em um mapeamento do que pode ser digitalizado e conectado, a fim de não jogar dinheiro fora“, explicou Michael.
Heitor Cauneto, Head de Excelência em Manufatura da Bunge, contou que a fábrica inteligente da Bunge instalada em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, trouxe resultados bastante significativos de ganho de produtividade, rendimento e também de engajamento de funcionários. “Muitas pessoas pensam que a digitalização assusta os funcionários, mas nós vimos que não. Nossos colaboradores aderiram às tecnologias pois perceberam que elas realmente podem ajudar, simplificar e agregar valor ao trabalho deles“, citou o executivo.
Já segundo Mércia Coelho, diretora de Global Planning Excellence da Johnson & Johnson, a tecnologia tem auxiliado a área de Supply Chain a eliminar excessos, erros e tornar o processo mais eficiente para as tomadas de decisão. “Os hábitos do consumidor estão mudando constantemente. Não existe mais aquele supply chain engessado que busca somente a eficiência em escala. Hoje apostamos no modelo ágil, no sentido de trazer à tona qual a forma mais fácil e inteligente de alcançarmos o objetivo e a tecnologia vem para auxiliar neste processo. O grande erro de se adquirir uma tecnologia, como se fosse uma solução mágica, sem ter passado por uma investigação profunda do que eu sou, qual o meu problema e o que eu quero resolver, é você começar a acessar produtos de prateleira que te dão uma solução pronta, mas que na realidade não resolve seu problema. O Lean te dá esta direção“, analisou Mércia.
O Itaú Unibanco levou para o evento dois de seus executivos – o diretor de investimentos Claudio Sanchez e o diretor de negócios digitais Rubens Fogli – que, ao lado da VP de Negócios da CI&T, Solange Sobral, contaram em detalhes o case de Transformação Lean Digital e o impacto nos negócios do banco. De acordo com Fogli, o grande diferencial é a mudança na forma de todas as equipes se organizarem em torno de um objetivo, para resolver uma dor específica do cliente, com agilidade e autonomia. Já Sanchez enfatiza que o Lean possibilita a transformação com escassez de recursos.
Por fim, entre os destaques desta edição, o presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e professor do ITA, Jefferson de Oliveira Gomes, afirmou que esta é a primeira vez na história da humanidade que o número de pessoas com mais de 60 anos é igual ao número de pessoas abaixo de 5 e que isto diz muito sobre o mundo em que estamos vivendo. “Fala-se tanto em machine learning, mas quem é que vai ensinar o processo que está em andamento para a máquina, se não aqueles que já têm seus quarenta, cinquenta, sessenta e poucos anos? É fundamental que nós forneçamos a estas pessoas as ferramentas necessárias para que elas se capacitem e se motivem com a tecnologia. A nova geração nasceu conectada é também muito ansiosa. Nós precisamos das gerações anteriores para fazer esta transição“, finalizou Jefferson.
O Best Practice Day 2019 trouxe ainda 6 workshops de aprofundamento no dia 12 de junho, realizados em parceiros Best Practice, como a MWM Motores Diesel, AGCO, Schott e ZF do Brasil. Entre os temas abordados estavam Lean Turnaround, Lean Administration, Shop floor Management, Toyota Kata e Estratégias Digitais para a Indústria. Os participantes tiveram a oportunidade de conhecer as implementações e os resultados alcançados por empresas que já estão na jornada Lean ou Digital. A próxima edição do evento no Brasil já tem data marcada: 15 e 16 de junho de 2021.
